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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Velho de Sintra

Era Outono. A luz era escassa e o frio já se fazia sentir. Ele, sentado na antiquada poltrona colocada minuciosamente ao lado da lareira, esfumaçava o seu cachimbo. O cheiro a tabaco pairava pelas poucas divisões que constituíam a pequena casa. Não mudara ao longo dos anos. Já lá iam 30 anos desde que tinha ido viver para aquela pequena casa no meio de nenhures na Serra de Sintra. Uma pequena herança de família constituída meramente por 4 divisões: quarto, casa de banho, cozinha e sala.
Fazia parte do quotidiano dele as tardes passadas na desgastada e já velha poltrona, olhando pela janela para a encosta onde a mais pura e misteriosa natureza repousava, enquanto as chamas deflagravam na lareira acesa, a única fonte de aquecimento daquele pobre ser.
Os livros eram a sua única companhia naquele lugar agreste e solitário onde ninguém mais vivia para além dele. Eram os poemas de Fernando Pessoa e os decassílabos de Luís de Camões que, através de metáforas e jogos de palavras, o acompanhavam nos longos dias de solidão naquele peculiar lugar, onde os minutos se tornavam dias e os dias se tornavam semanas.
Nunca tinha sido dado a grandes amizades e a grandes paixões e assim acabara por chegar àquela monótona vida sem nunca ter chegado a tirar o proveito merecido da sua única relíquia: a sua vida. E assim, ele dava o seu último suspiro sem que ninguém desse por isso, sem que o mundo sentisse a falta dele. Morreu no mais puro anonimato na casa onde quisera viver solitariamente durante os últimos 30 anos. Morreu assim junto à lareira, na sua velha e desgastada poltrona, sem que desse pelo facto de que o fim… chegara.

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